
Luiz Carlos Dacroce chegou a Portugal rotulado de craque. Antiga peça de relevo na engrenagem do 
Inter de Porto Alegre, foi feliz e contente que desembarcou nesse porto de abrigo chamado 
Beira-Mar, apenas a três anos de distância de ter marcado um golaço numa semi-final da Libertadores. Terá porventura pensado em repetir o momento pelos aveirenses na meia-final da então estreante Champions League?
Quiçá, pois apesar das partidas de 
Kangaroo-Kid Bozinovski e 
Milton "Smiley" Mendes, o plantel beiramarense gozava de grande prestígio em terras de Vera Cruz. Era a loucura entre os jovens brasileiros, que por todo aquele imenso País penduravam posters de 
Dinis e 
Krstic nos seus quartos. Ainda me recordo com doce candura dos porta-chaves com a efígie de 
Eliseu que eram ofertados aquando da compra de uma garrafita de Guaraná Brahma. Eram tempos de euforia, tempos de 
Acácio, tempos de 
Vítor Duarte. Foi pena a infame recusa de 
Serrinha, que na sua tão característica humildade, deu uma nega à vontade de Collor de Mello (o então presidente brasileiro) de rebaptizar a capital Brasília com o seu nome.
Voltemos então a 
Dacroce. Os sonhos de glória na squadra gialla ficaram pelo caminho, com um modesto 8º lugar, portanto longe da Liga dos Campeões. 
Dacroce não ficou de braços cruzados e fez uso do seu estatuto de craque para exigir uma transferência para um clube de renome. Seguiu-se o 
Belenenses, onde para não fugir à tradição, 
Mílton Mendes deu corda aos sapatos mal ouviu falar no nome deste centrocampista, refugiando o seu sorriso naquela mítica equipa madeirense que tinha alguns jogadores portugueses, mas dos quais ninguém se lembra.
Em Belém, terra onde Jesus não nasceu, o nosso homem voltou a não pegar de estaca, exigindo mais uma transferência após o mundialista 
David Embé o assediar constantemente nos treinos. A frase 
"o teu cabelo cheira a algodão-doce" foi suficiente para a PSP obrigar o camaronês a não se chegar a menos de 20m do brasileiro e aconselhar a direcção do clube a transferir o queixoso.
Isto leva-nos a 
Paços de Ferreira. Apesar de militar na II Divisão, o clube ofereceu-lhe um projecto ambicioso, que tornaria o brasileiro campeão de alguma coisa pela primeira vez na sua vida. Mas algo não batia certo. Desta vez, 
Mílton Mendes não teve a oportunidade de fugir do referido clube antes da chegada de 
Dacroce, simplesmente porque nunca jogou lá. Dacroce sentia-se desamparado. 
"Gosto sempre de ficar com o cacifo do Mílton. Ele deixa aquilo sempre tão arrumadinho e cheiroso. E decora-o com autocolantes do "tou". Gosto disso prá caramba."
Porém, os pacenses conseguiram convencer o quase-genial médio a assinar de qualquer forma, prometendo-lhe um cacifo melhor. Sempre estavam na Capital do Móvel. Foi assim que o convenceram. Isso, e uma carga de porrada que o defesa-central 
José Mota carinhosamente administrou a meias com 
Sessay.
Mas apesar deste início auspicioso, o trio de meio-campo 
Bozinovski/Sessay/Dacroce não conseguiu carregar a vila pacense à Divisão maior da nossa bola, e
 Dacroce exigiu a sua saída. Surpreso? Pois claro.

Nova paragem? 
Chaves.
Dacroce foi recebido com pompa e circunstância num airoso Municipal de Chaves ainda abalado com a abalada saída de
 J'aime "Zidane de Amarante" Cerqueira para 
Barcelos. Pétalas de rosas eram atiradas à sua passagem. 
Amarildo e 
Guetov presentearam-no com uma bela folha A4 com um desenho a lápis de côr da sua autoria. 
Manuel Correia deixou-o afagar o seu bigode. 
Daní Diaz, 
Míner e 
Toniño cozinharam-lhe um pratinho de pimentos padrón. 
Dacroce respondeu com amizade: 
"Pimentos Padrón, uns pican e outros nón".
Frase essa que até hoje ecoa pelos húmidos, frios e desconfortáveis corredores do Municipal Flaviense. Por aí, e pela Europa toda, claro.
Mas mais uma vez, o final não foi feliz. O 15º lugar foi pouco para um homem habituado a grandes palcos e a meter 124 ervilhas na boca em simultâneo só com a ajuda do dedo mindinho.
Como tal, mais uma vez, pediu a disp...
Não.
Eis que vos enganais.
Luiz Carlos Dacroce, sempre imprevisível, decidiu continuar em 
Aquae Flaviae (a cidade, não o hotel cujos painéis publicitários forravam o Municipal de Chaves), dada a sua quentinha e aconchegada amizade com 
Zoran Bukcevic e 
Vinagre. Os três mantiveram-se no plantel para a época seguinte, que os viu miraculosamente atingir uma imaculada 10º posição no final, facto que não será alheio à contratação de 42 reforços, entre os quais se encontravam 
Tito, 
Luís Vasco, 
Putnik, 
Sabou, 
Parfait N'Dong, 
Matute e 
N'Tsunda.
Uma verdadeira 
All-Star Team cromíflua, cuja fartura de incandescentes estrelas levou o ofuscado 
Dacroce a partir para paragens onde pudesse, de uma vez por todas, assumir o papel de Deus incontestável, um pouco à imagem de 
Alfredo Bóia no 
Desportivo das Aves.
Assim, e com o objectivo meia-final da Champions League sempre no horizonte, decidiu sabiamente embarcar numa aventura por terras gregas, onde representou verdadeiros dejectos mal-cheirosos em forma de clube como o Apollon Kalamarias e o Messianiakos.
Desiludido, abandonou o futebol em 2003, uma época DEPOIS de 
Mílton Mendes abandonar a prática da 
co-habitação sorriso/bola na poderosa formação do Machico. Mas nos nossos corações perdura a tua imagem com a camisola do Barça, letreiro branco Tintas Europa 24m x 12m no peito, e a boca cheia de ervilhas.
Boa sorte, 
Cross.